Bom dia, boa tarde, boa noite, por enquanto.
Durante A Feira do Livro, uma senhora me abordou e pediu uma obra que fugisse da mesmice criativa das oficinas literárias vigentes.
Parece que a escrita agora se resume a isso, seguir as receitas da escritora tal, do prêmio Jabuti acolá, cadê a criatividade disso?, ela me perguntou. Veja bem, não tenho nada contra oficinas, tenho até amigos que fazem, complementou.
Quase dei um abraço na senhora.
Depois não diga que não avisei.
Boas leituras.
Trilha Sonora
Para ser lido ao som de Kraftwerk.
Clique aqui se você (ainda) é humano
A tela, presa por fios na bomba caseira ― indica três minutos.
Agora menos um segundo. Menos dois, três…
Você caiu aqui por descuido. Se perdeu no labirinto de cores, luzes, e não percebeu um desvio de rota. Agora implora para partir. Alega compromisso, trabalho, futebol, o frio o ameno o calor, um vídeo, um meme, um livro em menor escala, uma festa de São João, a conta bancária no vermelho, um boleto novo no CPF, um telefonema de número desconhecido, um golpe, outra ligação da Claro, um amor não correspondido, um amor avassalador, um amor improvável, a falta de amor.
Talvez ache que ainda tem controle — que é só fechar a aba, desligar o wi-fi, apertar o botão certo, rezar para o algoritmo, correr em círculos como a notificação do grupo do condomínio. Você pode até dizer “eu nem tenho notificações habilitadas”, mas a cada tentativa de retorno, outra camada se apresenta: um anúncio, uma playlist, uma lembrança de três anos atrás, agora com filtro e trilha sonora. O dedo rola por reflexo. Uma promoção da Temu, da Shopee, da Amazon. Os olhos aceitam o contrato.
Você já esqueceu a hora em que chegou. O silêncio ao redor não é mais silêncio, mas um zumbido disfarçado de presença. Você sabe que não deveria ter aberto essa caixa, mas não se lembra das primeiras intenções.
Quando volta a si, olha para a tela, presa por fios na bomba caseira ― indica dois minutos agora.
Vale a pena ler de novo
Partindo da premissa digital e de vigia constante, recomendo a leitura de Kentukis, de Samanta Schweblin.
A ficção desta autora argentina explora a invasão dos lares por desconhecidos, circulando livremente por meio de câmeras em robôs de pelúcia. Um dispositivo que pode te observar ou permitir que você entre na vida de um completo estranho.
O pior é pensar que teria muita adesão.
Por hoje é isso.
Agradeço quem dedicou seu tempo e chegou até aqui.
Fiquem bem, e até a próxima.
Ou dois livros em menor escala.
Quando vejo esse Captcha, na hora de clicar, me ocorre uma dúvida: Será que é verdade? E se eu mentir? E se alguém me confrontar? "Tu és sim..." Sei lá.